Visitas

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O HOBBIT: Uma longa, LONGA viagem inesperada

Finalmente os autores deste blog fazem uma crítica em conjunto. Desta vez referente a algo cujo fascínio é mútuo, e por questões relacionadas a nostalgia de 2001 a 2003 graças à trilogia de filmes realizados por Peter Jackson, “O Senhor dos Anéis”. Não é de negar que a épica jornada do pequeno Frodo Baggins e Companhia pela Terra Média encantou-nos a nós a milhares de crianças (e adultos) pelo mundo fora. Por isso foi grande o entusiasmo quando após “O Regresso do Rei”, Jackson anunciou “O Hobbit”, fazendo-nos delirar de expectativa com a possibilidade de um dia voltarmos àquele maravilhoso mundo. No entanto a espera foi mais longa do que esperávamos e somente 9 anos depois é que esse desejo voltaria às salas de cinema.


Baseado no primeiro livro de JRR Tolkien, a história foca-se no tio de Frodo, Bilbo Baggins, que nos seus anos de juventude viveu uma aventura que o mudaria para sempre e que seria o prelúdio para o que se seguiria em “O Senhor dos Anéis”. Acompanhado por Gandalf o Cinzento, e por uma companhia de 13 anões, liderados por Thorin Escudo de Carvalho, o objectivo desta jornada tratava-se de recuperar o palácio e ouro que pertenciam aos antepassados de Thorin, que há muito tempo atrás lhes foram roubados pelo temível dragão Smaug. E assim começa o primeiro de três filmes já anunciados por Jackson.
Começando pelos aspectos que nos fizeram gostar desta experiência, há que afirmar que o filme está bastante fiel ao conteúdo do livro (e talvez até demasiado, tendo em conta a quantidade de coisas que foram sendo introduzidas ao longo da película). Os diálogos estão fiéis, e pontos importantes da obra estão muito bem retratados. Há um pouco mais de personalidade inserida nas personagens mais importantes, criando uma maior humanidade e a possibilidade de conflitualidade entre os aventureiros. Há quem veja nisso um grande problema, pois afasta-se um pouco da maneira de ser das personagens da obra, mas para nós, isso abriu-nos um caminho para um novo nível de complexidade que nos permitiu poder distinguir as personagens umas das outras. A tensão entre Bilbo e Thorin é bem presente ao longo do filme, contrastando o amor que o hobbit tem pelo conforto do seu lar com a vontade que o anão tem de recuperar o seu. Gandalf também está muito interessante, sendo fiel à sua contraparte da obra literária. É ele que auxilia os 13 anões na demanda, e aquele que dá um “empurrãozinho” ao Bilbo para que este saia de casa e conheça um mundo que este apenas julgava conhecer dos mapas e livros.
Todo o universo está ricamente preenchido, fazendo jus ao legado deixado pela trilogia anterior. As paisagens estão soberbas, variando fluidamente sempre que mudam de localização, desde prados e vales verdejantes até grutas negras e profundas. O Shire está belo como sempre, e Rivendell mantem-se majestosa e mágica. A nível paisagístico, a Terra Média não podia ter ficado melhor.
A banda sonora não é tão épica quanto à da trilogia original, mas consegue estar ao nível do exigido no filme. Cada música inserida encaixa-se como uma luva nas respectivas cenas, criando uma harmonia que nem todas as longas-metragens conseguem produzir. A música que os anões cantam em casa de Bilbo é maravilhosamente bem interpretada e prepara o espectador para mais de duas horas de pura aventura.
Contudo, nem tudo são rosas nesta adaptação cinematográfica. Apesar de bem conseguido, o filme tem algumas falhas que o tornam inferior à trilogia anterior. Uma delas é o excessivo número de efeitos por computador usados em personagens e animais. Quem viu a trilogia anterior sabe o quão bem estiveram os orcs retratados, graças a um excelente trabalho de maquilhagem. Contudo, aqui as criaturas receberam um tratamento diferente, sendo geradas por computador, o que mostra claramente um efeito de falsidade que não parece pertencer ao ambiente.
Apesar de termos referido a vasta variedade de ambientes, há-que dizer que nem todos os cenários são tão convincentes quanto parecem. Cenários abertos são fieis e bem retratados, mas cenários mais fechados (como a floresta onde acontece o encontro com os Trolls) parecem mesmo passar-se dentro de um estúdio, e não transmitem a sensação de acontecerem mesmo onde a história diz que acontecem.
Para quem leu "O Hobbit", sabe que três filmes é desnecessário. Mesmo dois filmes parecem demasiado, e essa é uma das partes negativas do filme. Apesar de querer abordar o máximo de material possível, Jackson arrisca-se a criar ambientes muito parados ou a desenvolver diálogos enfastiantes que pouco têm a ver com o enredo principal.
Algumas personagens de "O Senhor dos Anéis" aparecem também neste filme, destacando as presenças de Frodo, Galandriel e Saruman. Para sermos francos, não compreendemos porque Jackson se deu ao trabalho de voltar a chamar Elijah Wood, Cate Blanchett e Christopher Lee, visto que as suas presenças e impacto na história em pouco ou nada têm relevância nesta história.
Contudo, apesar das falhas presentes, o filme está muito bom. Muito divertido de ver e com personagens cativantes e bem retratadas, "The Hobbit: A Unexpected Journey" é a primeira parte de um grande regresso ao mundo fantástico criado por um dos maiores génios da literatura que há memória.

Nota final: 7,5 em 10

@Sara Sampaio
@Tiago Costa

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Paranormal Activity 4

Eu adoro filmes de terror, mais propriamente aqueles que brincam com os nossos medos interiores e nos aterrorizam psicologicamente. Para mim, quanto menos se souber do "perigo" ou do "monstro" do filme, mais amedrontador é. Então se não virmos o que nos atormenta, mais aterrorizante se torna. É o que se passa com "Paranormal Activity".
Já ouvi dezenas e dezenas de pessoas dizerem mal desta série de filmes porque achavam que nada se passava, ou nada era explicado, ou porque não viam o que causava todos aqueles acontecimentos paranormais. Eu, por outro lado, ADORO "Paranormal Activity". São todos os defeitos que as outras pessoas apontam que me fazem gostar tanto destes filmes. É o facto de as pessoas quererem ver alguma coisa num filme de terror que as faz aborrecerem-se. Elas querem ver um rosto, uma criatura, e não se deixam mergulhar no ambiente assustador que estes filmes tentam proporcionar.
A todas as pessoas que não gostam de "Paranormal Activity", deixo-vos duas situações para imaginarem:
1ª - Vocês fazem parte de um grupo de amigos que decide explorar uma casa que muitos dizem ser assombrada. Entram a meio da noite, percorrem corredores sombrios e silenciosos, a madeira velha a ranger a cada passo. Subitamente, ouvem um rugido, vindo de uma sala mais à frente. Vocês entram e deparam-se com o cheiro pútrido de uma dezena de corpos já tão estraçalhados que é impossível distinguir-lhes o género. E no fundo da sala está uma criatura asquerosa e verruguenta, de cabelos compridos e sujos, que escondem um rosto assassino e psicótico, enquanto leva à boca aquilo que outrora fora um braço e abocanha com sofreguidão um pedaço de carne mole e já arroxeada. A criatura larga o nojento manjar assim que vos vê, e ergue-se com inesperada perícia, dirigindo-se a vocês com a insanidade de um canibal esfomeado. Vocês fogem, perdem-se uns dos outros, escondem-se o melhor que puderem, mas ele consegue apanhar uns quantos. Apesar das baixas, os restantes conseguem encontrar força de vontade para resistir à criatura, e após uma sangrenta luta, conseguem subjugá-la e fugir da casa.
2ª - Vocês fazem parte de um grupo de amigos que decide explorar uma casa que muitos dizem ser assombrada. Entram a meio da noite, e mal percorrem alguns corredores, ruídos estranhos fazem-se ouvir de todas as partes da casa. O grupo explora, acabando por se deparar com eventos sobrenaturais: portas batem, retratos são atirados para o outro lado dos corredores por forças invisíveis, pequenos objectos são-vos arremessados. Não sabem quem ou o que vos está a fazer isto. Aterrorizados, procuram a saída, acabando por vê-la encerrar-se dura e sonoramente à vossa frente, como que empurrada por uma corrente de ar que ninguém sentia. De repente, um de vós é arrastado pela mesma força invisível e levado para uma das zonas mais escuras da casa, para nunca mais reaparecer. Enquanto procuram uma forma de escapar, outros sofrem o mesmo destino. Por fim, os poucos que conseguem encontrar uma saída escapam-se da casa para nunca mais voltar.
Faço-vos a pergunta: qual das duas situações é a mais aterrorizante? Se responderem a primeira é porque obviamente não têm noção do quão amedrontador é uma casa assombrada.
O que faz "Paranormal Activity" ser um filme tão bom é exactamente o facto de não sabermos com o que estamos a lidar. Quando vemos um rosto, um corpo sólido, algo identificável, podemos sempre combatê-lo. Por mais imprevisíveis que Jason Voorhees ou Michael Myers sejam, o que é certo é que eles são derrotados em todos os filmes. E porquê? Simplesmente pelo facto de serem vulneráveis, de terem as suas fraquezas, de serem susceptíveis a sofrer contra-ataques. E quando isso acontece, todo o factor terror perde-se completamente. Quanto menos soubermos acerca de algo que nos ameaça, mais amedrontadora a situação fica, porque não sabemos como reagir, não sabemos como combatê-la, não sabemos sequer para onde fugir. E "Paranormal Activity" é a derradeira experiência do medo porque não sabemos o que estamos a enfrentar.
Os filmes foram concebidos na já bem conhecida forma da perspectiva de uma câmara, ao estilo "The Blair Witch Project". O primeiro filme relata os acontecimentos paranormais que um casal de namorados presencia em sua casa. Todas as noites, algo é captado na câmara de filmar instalada no quarto de ambos, e durante o dia, ambos analisam o sucedido. Não vou contar como o filme acaba, mas posso dizer que para além do final que levou à continuação desta série de filmes, existem ainda mais dois finais alternativos que teriam excluído de uma vez por todas as hipóteses de existirem mais filmes.
O segundo filme é uma prequela do primeiro, focando-se numa família que decide colocar um sistema de vigilância em casa após uma suspeita de roubo. E aqui está uma das coisas mais interessantes acerca dos filmes: a inovação. Enquanto no primeiro filme assistíamos a tudo através de uma única câmara, neste temos o direito de ver o que se passa na maior parte das divisões da casa. Quanto a história e performance dos actores, devo dizer que, na minha opinião, é o que faz este filme o melhor da série até agora. As melhores personagens são, para mim, um bebé e uma cadela, somente pelo facto de conseguirem reagir a absolutamente nada (claro que no universo do filme, eles sabem que há ali uma presença do outro mundo, mas transmitir essa ideia num universo em que nada disso existe e conseguir bons resultados é um trabalho excelente). O filme acaba complementando o final do primeiro, deixando espaço para muitas dúvidas que viriam a ser respondidas no terceiro filme.
O terceiro filme é uma prequela da prequela, desta vez assistindo às actividades paranormais que aconteciam quando ambas as personagens principais dos filmes anteriores eram ainda crianças. Pretendia-se chegar às origens de tudo o que lhes estava a acontecer, mas acontece que apenas algumas perguntas foram respondidas. A única inovação que aconteceu foi quando o padrasto das meninas desmontou uma ventoinha e instalou uma câmara de forma a aproveitar-se do efeito "vai-e-vem" e captar toda a cozinha. Muito se esperava daquela inovação e muito contente fiquei por ver que a aproveitaram ao máximo.
Sabendo que o filme levantava muitas questões, toda a gente já estava à espera de uma nova prequela, indo ainda mais para trás, de forma a explicar de uma vez por todas as origens de tudo o que se passava. E eis que chegou "Paranormal Activity 4".


Este filme surpreendeu-me, devo dizê-lo, mas pela negativa. Contrariamente ao que se estava à espera, não se trata de uma prequela, mas sim uma sequela dos eventos dos dois primeiros filmes. Desta vez a história passa-se em 2011, e a família é outra, sem qualquer relação com os familiares dos filmes anteriores. Contudo, por alguma razão, começam a experienciar actividades paranormais em casa, o que os leva a instalar câmaras em casa. E aqui está um dos pontos negativos do filme: desta vez não há câmaras envolvidas, mas sim webcams. Aquela família tem pelo menos quatro computadores portáteis da Apple, incrivelmente bons e com uma qualidade de imagem excelente e que ficam a gravar o que acontece em casa durante dias inteiros. Não há computadores assim tão bons neste mundo, muito menos com capacidade para guardar 24 horas de filmagens em alta qualidade. Só isto torna a situação mais irrealista do que a própria actividade paranormal.
A história não está má, mas vai contra alguns factos que acontecem no segundo filme, levando a um twist tão ilógico que nem sei como não consideraram reescrever o enredo. Basicamente, o que posso dizer é que a razão pela qual esta família é atacada pelo demónio dos filmes anteriores faz com que TODO o enredo do segundo filme seja completamente inútil.
Não podiam faltar as inovações. Desta vez, para além das conversações que o casal Alex e Ben têm pela webcam, eles aproveitam o sensor do Kinect para capturar acontecimentos paranormais. De vez em quando lá se descobrem umas sombras, mas os maiores sustos não vêm daí. Foi no entanto uma inovação interessante e usada de forma cuidada.
Mais uma vez o Oscar da melhor performance vai para o pequeno Robbie, o estranho filho da nova vizinha que se mudou para o bairro. Ele age como o pequeno Damien de The Omen, excepto que não tão inocente. Sabemos logo desde o início que ele é mau e vai tentar corromper aquela família, não há como enganar. Contudo, tem sempre de haver gente estúpida ao ponto de não ver as evidências, e os pais da Alex e do Wyatt são os únicos que não as vêm, agindo de forma estúpida e desculpando o rapaz com razões estapafúrdias. Quanto ao resto das personagens, não estão más, mas os diálogos têm tantas e tão estúpidas piadas que acabam por tirar o ambiente que o filme devia transmitir.
Há momentos que prometiam bons sustos, e o filme não os soube aproveitar. Há uma cena que envolve o desaparecimento de uma faca mesmo em frente à câmara. A partir daí toda a gente se perguntava quando é que faca iria ressurgir, se ia ser usada para matar alguém, se iria ser empunhada por Robbie ou Wyatt... E acabaram por desperdiçar uma excelente oportunidade num susto, quando a faca cai convenientemente em frente à câmara.
Pela lógica dos factos, este filme teria acabado bem mais cedo do que acabou. E quem viu o filme sabe que o final foi o mais abrupto de toda a série. Acontece que, como nos filmes anteriores, pessoas morrem, e numa história verdadeira, as câmaras ter-se-iam logo desligado. Contudo, Alex enfrenta o desconhecido no fim do filme, tomando conhecimento das mortes que aconteceram, mas nunca largando a câmara (neste caso o telemóvel), nem quando está em perigo de morte mais que certa. Compreendo que ela quisesse documentar os acontecimentos, mas a partir do momento em que pessoas próximas são mortas, continuar as filmagens torna-se num acto inútil.
Para uma série de filmes que tinha tudo para ser um sucesso, "Paranormal Activity 4" foi uma desilusão de todo o tamanho. Estava disposto a considerá-lo um dos melhores filmes de 2012, mas após tê-lo visualizado na passada 5ª feira, concluí que desta vez este filme merecia estar no corredor dos piores. Para quem o quiser ver, recomendo já ter visto os anteriores antes, ou então não vai entender as inconsistências que este filme trouxe. Agora é só esperar pelo 5º, que (espero bem que não) vai levantar ainda mais questões, com o objectivo de fazer mais dinhe... digo, filmes. Só esperar para ver...

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Arbitrage

Nunca fui um grande fã de drama, apesar de apreciar quase todo o tipo de género cinematográfico. No entanto, se tiver de escolher, opto sempre por um bom filme de acção, aventura ou terror. Sei que com isso posso estar a perder grandes filmes com boas histórias ou personagens, mas para mim o que define um bom filme é a reacção que nos provoca enquanto o vemos. Por vezes não conseguimos entender um filme à primeira, e pode ser necessária uma breve reflexão ou uma conversa com o grupo que nos acompanhou durante o filme para tentar perceber o que afinal acabou por acontecer. Foi o que aconteceu no fim de tarde de Sábado, na sala 2 de cinema do Dolce Vita de Vila Real quando eu, a minha namorada e o primo vimos o filme "Arbitrage" (A Fraude), com Richard Gere.



Mais uma vez digo que se tivesse outra alternativa teria escolhido outro filme (e as minhas escolhas cairiam entre o "Looper" e o "Premium Rush", conhecido aqui como "Encomenda Armadilhada"), mas questões de horário levaram-nos a seguir o rumo deste drama, tendo-nos deparado com uma pequena sala de cinema e um total de menos de dez pessoas, incluindo nós.
Para quem só vai ao cinema ver filmes de "tiros" e explosões, este filme não é recomendável. Para quem está à espera de grandes cenas de acção, ou de um clímax cheio de emoção, pode esquecer este filme. Se, pelo contrário, uma história envolvente é tudo o que é preciso, então este filme é recomendável. Não obrigatório, mas recomendável.
O meu problema em explicar este filme vem do facto de não ser uma pessoa de negócios, nem mesmo perceber algumas das coisas que foram acontecendo ao longo do enredo. O filme não começa pelo princípio, uma vez que ficamos rapidamente a saber que a personagem Robert Miller (interpretada por Richard Gere) é um homem de negócios bem sucedido que, devido a um mau investimento pode vir a ser acusado de fraude, e então faz de tudo para encobrir tal acontecimento. Por um lado, é um homem visto como um filantropo, um homem de bem, com uma grande família, amado e respeitado por todos. Por outro, este aspirante a " Sr. Perfeito" esconde uma amante (interpretada por Laetitia Casta) e o mau investimento que pode pôr a sua família em risco de perder tudo.
Tão depressa vemos esta personagem na mó de cima, como o vemos a deteriorar-se ao longo do desenrolar do enredo. Enquanto faziam uma escapadela a meio da noite, Robert e a amante Julie têm um grave acidente de carro, que acaba por matá-la. Robert fica ferido, mas esse torna-se no menor dos seus problemas quando o carro subitamente explode, carbonizando o corpo de Julie. Desesperado, o milionário entra em contacto com Jimmy Grant, o filho de um falecido amigo (interpretado por Nate Parker) e pede-lhe ajuda para escapar da cena.
Claro que Robert não tarda a ser interrogado pelo detective Bryer (interpretado por Tim Roth) e constituído principal suspeito no caso da morte de Julie. Com tudo isto, o pobre do Jimmy é arrastado para uma rede de mentiras que podem comprometer o seu futuro, e a filha de Robert, Brooke Miller (interpretada por Brit Marling) acaba por descobrir acerca dos esquemas do pai. Durante o filme vemos Robert afundar-se nas consequências dos seus actos, e arriscando-se a perder tudo o que tem.
Não nego que é necessário ter alguns conhecimentos acerca do mundo dos negócios e estar muito atento aos acontecimentos que se vão desenrolando e às conversas entre as personagens. O filme acaba de uma maneira tão abrupta que ninguém está à espera, e espectadores mais desatentos irão ficar com uma cara de "Mas então acaba assim?" Mas se o espectador estiver atento vai perceber que o filme acaba respondendo a todas as perguntas, ficando sem motivos para continuar.
Como um filme dramático, resulta bem. Tem um ritmo bom, as personagens possuem personalidades distintas e o enredo acaba por ser envolvente, levando-nos a querer saber do futuro das personagens. Não é o melhor filme de 2012, mas decerto uma boa aposta para quem gosta do género e quer passar um bom bocado.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Balas & Bolinhos - O Último Capítulo

Antes de passar à análise do filme citado no título deste post, há-que explicar o porquê de mais de um ano de inactividade neste blog. Acontece que obrigações académicas interpuseram-se no caminho, e pouco ou nenhum tempo tivemos para preparar posts com análises, observações ou opiniões. Felizmente, agora encontro-me mais liberto para poder dedicar mais tempo às coisas que gosto, incluindo este blog.
Bem, terminadas as explicações, vamos ao que interessa.


Ontem à tarde tive o prazer de me sentar na maior sala de cinema do Parque Nascente, em Gondomar, para me regalar com o terceiro capítulo de uma trilogia que conquistou audiências pelo país inteiro. Não é de negar que Balas & Bolinhos tornou-se num autêntico fenómeno cinematográfico em Portugal desde a sua estreia em 2001. Era um filme simples, quase sem história, em que quatro amigos se juntam e planeiam aquilo que esperam ser o melhor assalto de sempre. E é apenas isso. Não é nenhuma obra prima, não é nada merecedor de um Óscar, mas funciona como filme. O quarteto encaixa perfeitamente, e é esse o segredo para o sucesso destes filmes. O Tone (interpretado por Luís Ismael) é o cérebro do grupo, o homem que planeia os esquemas. O Rato (Jorge Neto) é um hiperactivo cuja gargalhada velhaca e o palavreado impulsivo são o alvo de galhofa quase certa. O Culatra (J. D. Duarte) é o playboy do grupo, gabando-se das "gajas" que já "comeu" e fazendo todos os possíveis para engatar o máximo possível. Por fim, o Bino (João Pires) é o drogado do grupo, cujo facto de já nem conseguir articular uma palavra é compensado pelas inúmeras palhaçadas que faz ao longo dos filmes. Com um grupo assim, como poderão as coisas correr mal?
O primeiro Balas & Bolinhos surgiu em 2001 pela mão da Lightbox, e foi bem recebido, apesar do seu pouco enredo e pouca duração. Palavreado rude e obsceno não faltou, e foi essa a fórmula que resultou no sucesso. Tal sucesso valeu-lhes um regresso em 2004 com "Balas & Bolinhos - O Regresso", com uma produção maior, mais apoios, um elenco maior de personagens e, o mais importante, uma história sólida e coerente. Aqui não eram só os palavrões que prevaleciam, mas também a emoção da aventura que o quarteto estava a viver. Acreditando ter em mãos o mapa para um tesouro de valor incalculável, Tone e Companhia viajam por montes e vales, enquanto são perseguidos por três ciganos que querem recuperar o dinheiro que o Rato lhes deve. Para mim, este filme tornou-se uma grande conquista e uma evolução depois do primeiro. Por isso as minhas grandes expectativas quando na tarde de ontem me sentei diante do grande ecrã e assisti à terceira parte desta trilogia. E apesar de ter achado o filme muito bom, a conclusão a que cheguei enquanto pensava nele durante o caminho para casa foi: não superou "O Regresso".
Uma das coisas que eu não gosto é de ser induzido em erro por algo visto pelos meus próprios olhos, e o trailer deste filme fez isso mesmo. Quando vemos o trailer de um filme, normalmente tiramos uma ideia daquilo que esperamos que o filme tenha, tanto em termos de história como de personagens, entre outros aspectos. E o trailer que vi (ou posso considerar um teaser neste caso), induziu-me em erro num dos aspectos que nunca foi explicado. Já irei falar disso.
Um dos grandes problemas deste filme é o facto de ser completamente irrealista de uma ponta à outra. Sim, leram bem. Irrealista. É incrível a quantidade de coincidências que existem neste filme, a quantidade de conveniências e a quantidade de coisas inexplicáveis que tornam o filme impossível. E acreditem quando digo que o trailer é exímio em induzir-nos em erro algo que supostamente vai ser explicado, mas que no filme nunca o é. Falo do cigano Mourito (interpretado por Pedro Carvalho).
Quem viu o segundo filme sabe perfeitamente o que aconteceu ao trio de ciganos que perseguia Tone e Companhia pelas montanhas. Foram liquidados, de um modo bastante anti-climático, por três tiros de pistola e um de caçadeira. Claro que tal não foi mostrado, mas custa a acreditar que tenham sobrevivido. Mas acontece que o Mourito aparece neste filme, ainda atrás do Rato por causa do dinheiro que este lhe deve, e em nenhuma altura é explicado como sobreviveu no filme anterior. Os protagonistas nem ficam espantados pelo aparecimento dele. Já saberiam que ele não tinha morrido? Nada é explicado.
Quem viu o teaser lembra-se perfeitamente da parte em que uma mão aparece no chão à beira de uma auto-estrada, e cenas depois o rosto sério de Mourito aparece à chuva, indicando o seu regresso. Acontece que, depois de ver o filme, ficou constatado que a mão pertencia ao Rato, que se tinha atirado para fora do carro onde ia para fugir de um grupo de índios. Foi uma das desilusões pelas quais me deparei.
A história principal... Bem, devo dizer que tenho um problema com a história principal: por várias vezes esquecia-me da sua existência. Isto porque o filme insere sub-histórias menos importantes pelo meio, mas que duram tanto tempo que acabamos por esquecer que o objectivo do quarteto é encontrar uma mala com dinheiro que o Rato e o falecido companheiro Bifes roubaram, assim como o Tone usar a sua parte do dinheiro para arranjar um fígado novo ao pai (interpretado por Octávio Matos). Sub-histórias essas que incluem a dívida que o quarteto tem para com Mourito, a polícia procurar por Culatra pelo facto deste fazer-se passar por médico, a perseguição dos índios ao Rato para que este case com a filha do chefe deles (interpretado pelo Jaimão) e as capacidades inatas do Tone para o Kung Fu, reveladas logo no início do filme. O maior problema em terem inserido estas sub-histórias foi que elas não têm nada a ver com o enredo principal. Existem apenas por existir, e nunca são concluídas, o que acaba por desapontar.
É parcialmente desnecessária aquela introdução do Tone no início do filme, mostrando o seu Kung Fu para um grupo de bandidos chineses. Digo parcialmente porque mais tarde no filme ele usa tal mestria para combater contra um chinês que deseja efectuar um negócio ilegal contra o suposto vilão da história, um homem chamado Tito, que é o dono de uma empresa de fogos de artifício e o assassino do Bifes. Mas voltando a introdução, o que a torna completamente desnecessária é o facto de nunca ser explicado onde e com quem ele aprendeu Kung Fu, assim como nunca é explicada a sua fluência em chinês. Julgava eu que a história nos fosse levar para um combate contra a máfia chinesa, por exemplo, mas pelos vistos a presença de Jing Mai (interpretado por Jason Ninh Cao) não só foi rápida como não teve peso nenhum nos objectivos do Tone.
Há momentos hilariantes no decurso da história, como o casamento forçado do Rato com a filha do chefe dos índios, tendo o Tone como padre, ou o momento em que o Rato é quase violado por um cigano com nome de cão que espalha com grande javardice bocados de frango da boca, ou o aparecimento do irmão do Tone (interpretado por Francisco Menezes) como um travesti, numa cena em muito baseada na dança do filme Who Framed Roger Rabit. São momentos que nos asseguram grandes gargalhadas, mas que pecam por nos desviar daquilo que realmente importa. A coincidência reina em todo o filme, quando os membros conseguem encontrar-se assim do nada. Como exemplo: o Bino rouba um veículo motorizado a um homem e enquanto foge dá de caras com Culatra, que está a fugir da polícia por ter sido apanhado a fazer-se passar por médico. Os dois conseguem escapar e acabam por atropelar o Rato, quando este ia a fugir dos ciganos. Quem disse que não há coincidências?
No fim, e pela primeira vez em três filmes, o quarteto consegue os seus objectivos. O pai do Tone consegue um fígado novo, e os restantes gozam a boa vida que finalmente conseguem ter, para no fim serem perseguidos por todas as pessoas que os procuraram ao longo do filme.
Com tudo isto, perguntam-me: o filme é mau? Absolutamente que não. Gostaste do filme? Bastante. Juntei-me ao coro de inúmeras gargalhadas que encheram a sala de cinema durante a tarde de ontem, e devo dizer que, apesar das muitas falhas, foi uma tarde bem passada. Para mim, os problemas que este filme comporta tornam-no inferior ao segundo filme. Pudessem interligar as sub-histórias com o enredo principal e teríamos uma história bem interessante e digna de um dos melhores filmes de 2012.