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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Paranormal Activity 4

Eu adoro filmes de terror, mais propriamente aqueles que brincam com os nossos medos interiores e nos aterrorizam psicologicamente. Para mim, quanto menos se souber do "perigo" ou do "monstro" do filme, mais amedrontador é. Então se não virmos o que nos atormenta, mais aterrorizante se torna. É o que se passa com "Paranormal Activity".
Já ouvi dezenas e dezenas de pessoas dizerem mal desta série de filmes porque achavam que nada se passava, ou nada era explicado, ou porque não viam o que causava todos aqueles acontecimentos paranormais. Eu, por outro lado, ADORO "Paranormal Activity". São todos os defeitos que as outras pessoas apontam que me fazem gostar tanto destes filmes. É o facto de as pessoas quererem ver alguma coisa num filme de terror que as faz aborrecerem-se. Elas querem ver um rosto, uma criatura, e não se deixam mergulhar no ambiente assustador que estes filmes tentam proporcionar.
A todas as pessoas que não gostam de "Paranormal Activity", deixo-vos duas situações para imaginarem:
1ª - Vocês fazem parte de um grupo de amigos que decide explorar uma casa que muitos dizem ser assombrada. Entram a meio da noite, percorrem corredores sombrios e silenciosos, a madeira velha a ranger a cada passo. Subitamente, ouvem um rugido, vindo de uma sala mais à frente. Vocês entram e deparam-se com o cheiro pútrido de uma dezena de corpos já tão estraçalhados que é impossível distinguir-lhes o género. E no fundo da sala está uma criatura asquerosa e verruguenta, de cabelos compridos e sujos, que escondem um rosto assassino e psicótico, enquanto leva à boca aquilo que outrora fora um braço e abocanha com sofreguidão um pedaço de carne mole e já arroxeada. A criatura larga o nojento manjar assim que vos vê, e ergue-se com inesperada perícia, dirigindo-se a vocês com a insanidade de um canibal esfomeado. Vocês fogem, perdem-se uns dos outros, escondem-se o melhor que puderem, mas ele consegue apanhar uns quantos. Apesar das baixas, os restantes conseguem encontrar força de vontade para resistir à criatura, e após uma sangrenta luta, conseguem subjugá-la e fugir da casa.
2ª - Vocês fazem parte de um grupo de amigos que decide explorar uma casa que muitos dizem ser assombrada. Entram a meio da noite, e mal percorrem alguns corredores, ruídos estranhos fazem-se ouvir de todas as partes da casa. O grupo explora, acabando por se deparar com eventos sobrenaturais: portas batem, retratos são atirados para o outro lado dos corredores por forças invisíveis, pequenos objectos são-vos arremessados. Não sabem quem ou o que vos está a fazer isto. Aterrorizados, procuram a saída, acabando por vê-la encerrar-se dura e sonoramente à vossa frente, como que empurrada por uma corrente de ar que ninguém sentia. De repente, um de vós é arrastado pela mesma força invisível e levado para uma das zonas mais escuras da casa, para nunca mais reaparecer. Enquanto procuram uma forma de escapar, outros sofrem o mesmo destino. Por fim, os poucos que conseguem encontrar uma saída escapam-se da casa para nunca mais voltar.
Faço-vos a pergunta: qual das duas situações é a mais aterrorizante? Se responderem a primeira é porque obviamente não têm noção do quão amedrontador é uma casa assombrada.
O que faz "Paranormal Activity" ser um filme tão bom é exactamente o facto de não sabermos com o que estamos a lidar. Quando vemos um rosto, um corpo sólido, algo identificável, podemos sempre combatê-lo. Por mais imprevisíveis que Jason Voorhees ou Michael Myers sejam, o que é certo é que eles são derrotados em todos os filmes. E porquê? Simplesmente pelo facto de serem vulneráveis, de terem as suas fraquezas, de serem susceptíveis a sofrer contra-ataques. E quando isso acontece, todo o factor terror perde-se completamente. Quanto menos soubermos acerca de algo que nos ameaça, mais amedrontadora a situação fica, porque não sabemos como reagir, não sabemos como combatê-la, não sabemos sequer para onde fugir. E "Paranormal Activity" é a derradeira experiência do medo porque não sabemos o que estamos a enfrentar.
Os filmes foram concebidos na já bem conhecida forma da perspectiva de uma câmara, ao estilo "The Blair Witch Project". O primeiro filme relata os acontecimentos paranormais que um casal de namorados presencia em sua casa. Todas as noites, algo é captado na câmara de filmar instalada no quarto de ambos, e durante o dia, ambos analisam o sucedido. Não vou contar como o filme acaba, mas posso dizer que para além do final que levou à continuação desta série de filmes, existem ainda mais dois finais alternativos que teriam excluído de uma vez por todas as hipóteses de existirem mais filmes.
O segundo filme é uma prequela do primeiro, focando-se numa família que decide colocar um sistema de vigilância em casa após uma suspeita de roubo. E aqui está uma das coisas mais interessantes acerca dos filmes: a inovação. Enquanto no primeiro filme assistíamos a tudo através de uma única câmara, neste temos o direito de ver o que se passa na maior parte das divisões da casa. Quanto a história e performance dos actores, devo dizer que, na minha opinião, é o que faz este filme o melhor da série até agora. As melhores personagens são, para mim, um bebé e uma cadela, somente pelo facto de conseguirem reagir a absolutamente nada (claro que no universo do filme, eles sabem que há ali uma presença do outro mundo, mas transmitir essa ideia num universo em que nada disso existe e conseguir bons resultados é um trabalho excelente). O filme acaba complementando o final do primeiro, deixando espaço para muitas dúvidas que viriam a ser respondidas no terceiro filme.
O terceiro filme é uma prequela da prequela, desta vez assistindo às actividades paranormais que aconteciam quando ambas as personagens principais dos filmes anteriores eram ainda crianças. Pretendia-se chegar às origens de tudo o que lhes estava a acontecer, mas acontece que apenas algumas perguntas foram respondidas. A única inovação que aconteceu foi quando o padrasto das meninas desmontou uma ventoinha e instalou uma câmara de forma a aproveitar-se do efeito "vai-e-vem" e captar toda a cozinha. Muito se esperava daquela inovação e muito contente fiquei por ver que a aproveitaram ao máximo.
Sabendo que o filme levantava muitas questões, toda a gente já estava à espera de uma nova prequela, indo ainda mais para trás, de forma a explicar de uma vez por todas as origens de tudo o que se passava. E eis que chegou "Paranormal Activity 4".


Este filme surpreendeu-me, devo dizê-lo, mas pela negativa. Contrariamente ao que se estava à espera, não se trata de uma prequela, mas sim uma sequela dos eventos dos dois primeiros filmes. Desta vez a história passa-se em 2011, e a família é outra, sem qualquer relação com os familiares dos filmes anteriores. Contudo, por alguma razão, começam a experienciar actividades paranormais em casa, o que os leva a instalar câmaras em casa. E aqui está um dos pontos negativos do filme: desta vez não há câmaras envolvidas, mas sim webcams. Aquela família tem pelo menos quatro computadores portáteis da Apple, incrivelmente bons e com uma qualidade de imagem excelente e que ficam a gravar o que acontece em casa durante dias inteiros. Não há computadores assim tão bons neste mundo, muito menos com capacidade para guardar 24 horas de filmagens em alta qualidade. Só isto torna a situação mais irrealista do que a própria actividade paranormal.
A história não está má, mas vai contra alguns factos que acontecem no segundo filme, levando a um twist tão ilógico que nem sei como não consideraram reescrever o enredo. Basicamente, o que posso dizer é que a razão pela qual esta família é atacada pelo demónio dos filmes anteriores faz com que TODO o enredo do segundo filme seja completamente inútil.
Não podiam faltar as inovações. Desta vez, para além das conversações que o casal Alex e Ben têm pela webcam, eles aproveitam o sensor do Kinect para capturar acontecimentos paranormais. De vez em quando lá se descobrem umas sombras, mas os maiores sustos não vêm daí. Foi no entanto uma inovação interessante e usada de forma cuidada.
Mais uma vez o Oscar da melhor performance vai para o pequeno Robbie, o estranho filho da nova vizinha que se mudou para o bairro. Ele age como o pequeno Damien de The Omen, excepto que não tão inocente. Sabemos logo desde o início que ele é mau e vai tentar corromper aquela família, não há como enganar. Contudo, tem sempre de haver gente estúpida ao ponto de não ver as evidências, e os pais da Alex e do Wyatt são os únicos que não as vêm, agindo de forma estúpida e desculpando o rapaz com razões estapafúrdias. Quanto ao resto das personagens, não estão más, mas os diálogos têm tantas e tão estúpidas piadas que acabam por tirar o ambiente que o filme devia transmitir.
Há momentos que prometiam bons sustos, e o filme não os soube aproveitar. Há uma cena que envolve o desaparecimento de uma faca mesmo em frente à câmara. A partir daí toda a gente se perguntava quando é que faca iria ressurgir, se ia ser usada para matar alguém, se iria ser empunhada por Robbie ou Wyatt... E acabaram por desperdiçar uma excelente oportunidade num susto, quando a faca cai convenientemente em frente à câmara.
Pela lógica dos factos, este filme teria acabado bem mais cedo do que acabou. E quem viu o filme sabe que o final foi o mais abrupto de toda a série. Acontece que, como nos filmes anteriores, pessoas morrem, e numa história verdadeira, as câmaras ter-se-iam logo desligado. Contudo, Alex enfrenta o desconhecido no fim do filme, tomando conhecimento das mortes que aconteceram, mas nunca largando a câmara (neste caso o telemóvel), nem quando está em perigo de morte mais que certa. Compreendo que ela quisesse documentar os acontecimentos, mas a partir do momento em que pessoas próximas são mortas, continuar as filmagens torna-se num acto inútil.
Para uma série de filmes que tinha tudo para ser um sucesso, "Paranormal Activity 4" foi uma desilusão de todo o tamanho. Estava disposto a considerá-lo um dos melhores filmes de 2012, mas após tê-lo visualizado na passada 5ª feira, concluí que desta vez este filme merecia estar no corredor dos piores. Para quem o quiser ver, recomendo já ter visto os anteriores antes, ou então não vai entender as inconsistências que este filme trouxe. Agora é só esperar pelo 5º, que (espero bem que não) vai levantar ainda mais questões, com o objectivo de fazer mais dinhe... digo, filmes. Só esperar para ver...