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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Literatura Iletrada - "As Aparências Iludem" - 1ª parte: "A Loja dos Brinquedos" (1/3)

"Um livro vai para além de um objecto. É um encontro entre duas pessoas através da palavra escrita. É esse encontro entre autores e leitores que a Chiado Editora procura todos os dias, trabalhando cada livro com a dedicação de uma obra única e derradeira, seguindo a máxima pessoana "põe tudo quanto és no mínimo que fazes". Queremos que este livro seja um desafio para si. O nosso desafio é merecer que este livro faça parte da sua vida".


Um desafio? O maior desafio ao ler esta descarga de diarreia literária foi o de virar cada uma das páginas. Cada vez mais me convenço que hoje em dia qualquer bandalho consegue escrever e publicar um livro.
Sim, eu sei que me estou a desviar da "Literatura Iletrada" a'"O Filho de Odin", mas decidi fazer uma pausa para abraçar um projecto novo. Algo que aniquile por completo qualquer resquício de células cerebrais que ainda me restam, devido à minha incursão pelo que de pior a literatura tem para oferecer. Eu bem podia estar a usar o meu tempo para ler obras de renome, polvilhar a minha mente com a mais requintada cultura e vir para este espaço partilhar o quão maravilhado estou com tamanhas pérolas literárias. Mas em vez disso estou a pôr em causa a minha sanidade mental com mediocridade. Um dia hei-de pegar em todos os livros maus que alguma vez li e fazer algo de útil com eles.

A segunda opção é usá-los como acendalhas.
"As Aparências Iludem". E nem imaginam o quanto. Quando este livro me foi passado para as mãos, a primeira impressão que tive foi: "Hmm, nada mau. Capa flexível, uma mensagem algo misteriosa e uma sinopse que diz tudo e ao mesmo tempo não revela nada. Pode ser que não seja assim tão mau". 386 páginas depois e estava a bradar aos céus por tudo o que tinha lido e pelo tempo perdido.

Dava tudo para ter lido o romance de Agatha Christie com o mesmo nome.
Este livro foi escrito por Kevin Palha e lançado em 2013. Nele, temos uma antologia de várias histórias de terror, saídas do imaginário de Kevin. São sete histórias com temas diferentes e até de certo modo interessantes, mas aplicados de uma forma tão horrenda e sádica que é de admirar que este livro tenha conseguido patrocínios. Sim, leram bem. Este livro conta com CINCO patrocinadores, mais do que muitos autores com mais talento alguma vez conseguirão ter. Cada uma destas histórias é-nos entregue de uma forma repugnante, com um português ainda mais atroz que a escrita de Zuzarte (sim, bem mais), e as histórias só podem ser saídas de uma mente perturbada que sente prazer em escrever sobre pedofilia ou mutilação.
Vamos então dissecar este excremento e descobrir quão mau ele é. O primeiro conto chama-se: "A Loja dos Brinquedos".
A história passa-se na América. Tudo começa durante uma visita de estudo de alunos de várias turmas do 1º Ciclo da Escola de Orrington a uma fábrica de café em Clenberg.

"Dessas turmas destacam-se seis crianças:

- Os irmãos Bobby e Morgana Caulfield, de 7 e 4 anos;
- Liam Wright de 9 anos;
- Justin Corrigan de 8 anos;
- Veronica Zittel de 6 anos e meio;
- Cherry Lloyd de 6 anos."

Ora bem, alguém devia dizer ao Kevin que não é assim que se escreve uma história. Infelizmente (e para arrumar com este assunto de uma vez), ele usa este método no início de algumas destas histórias para apresentar algumas das personagens intervenientes. Só que tal método podia ser evitado, e as personagens bem que podiam ser apresentadas narrativamente, sem ser preciso o recurso a uma lista. Isto num filme ou série não ficaria mal, mas num livro é completamente desnecessário e foge àquilo que uma história literária é.
As turmas param no Jardim das Flores para almoçar. Os nossos protagonistas, Bobby e Morgana mostram um ao outro o que a mãe lhes fez para o almoço.

"- O que é que a mamã te fez? - Perguntou Morgana.
- Fez-me uma sandes de frango e uma sandes de presunto. - Respondeu Bobby."

Logo uma sande de presunto? Ah, carago, o típico almoço americano, preparado a pensar nas jovens mentes de amanhã. Bem, se para um puto de 7 anos vamos levar com um repasto desta categoria, ainda estou para ver o que é que a irmã recebeu da mãe.

" - (Morgana) A mim preparou-me uma sandes de ovo."

Só isso? A miúda está a crescer e a mãe só lhe faz uma mísera de uma sande de ovo?

"Bobby pediu o sumo à irmã e bebeu. Mas logo cuspiu para a relva, pois o que estava na garrafa não era sumo... era urina."

Eh pá, ainda mal comecei e já estou enojado. Eu sei que os miúdos são cruéis, mas daí urinar-lhe para a garrafa do sumo...
Isto é algo muito comum nos contos de Kevin Palha. Quando uma personagem é má, quaisquer limites de moralidade são completamente inexistentes. Mesmo uma criança com menos de 10 anos é capaz de matar. Por outro lado, as personagens boas são demasiado bondosas e inocentes. Não quero dizer com isto que não haja um meio termo entre outras personagens, mas este tipo de personalidade torna a maior parte dos intervenientes de cada conto em pessoas previsíveis e bidimensionais, sem nada com que nos surpreender. Neste caso, cada uma das crianças apresentadas, tirando Bobby e Morgana, são do mais malévolo que pode haver.

Juntem mais este e temos um culto satânico.
Bobby vai ter com Liam Wright, que aparentemente foi quem fez a patifaria, e os dois começam a andar à pancada. As professoras vão separá-los, e como não acreditam na história de Bobby, decidem colocá-lo de castigo, depois lhe chamarem nomes como "malcriado, porco, mentiroso e desavergonhado". Coisas perfeitamente normais para se dizerem a uma criança de 7 anos, já sabem como é. Além disso, como raio não acreditaram que o sumo tinha urina? O rapaz não lhes mostrou a garrafa? Ou será que ele bebeu o conteúdo todo até se ter apercebido que era urina? Ugh...
Como castigo, o rapaz fica afastado do grupo e Morgana fica a comer sozinha. Bobby preocupa-se com a irmã, mas como as professoras são do mais cruel e incompetente que pode haver, não o deixam ver como está Morgana. Será que essas senhoras se lembram que a menina tem 4 anos?
Acontece que Morgana desaparece.

"Quando Bobby se voltou para localizar a sua irmã, esta tinha desaparecido.
- Morgana? Morgana?!
- Cala-te, pirralho!
- Miss Clarkson, a minha irmã desapareceu!
- Cala-te, não sejas mentiroso!
- Miss Clarkson, juro-lhe, pela minha saúde, que a minha irmã não está ali.
- Então é porque está a brincar, palerma!"

Valham-me os céus! Haverá professores mais cruéis que estas gajas? Primeiro chamam nomes a um rapaz de 7 anos, colocam-no de castigo e depois ignoram a menina de 4 anos que fica sozinha a comer. Estão a ver o que quis dizer há pouco com o facto de personagens más não terem quaisquer limites morais? Esta gente faz a professora de Matilda parecer uma educadora de infância.

E isso é dizer muito.
"Bobby aproveitou um momento em que as professoras estavam distraídas, na conversa, e escoou-se."

Hã, escoou-se? Mas literalmente. O rapaz espremeu-se por algum lugar imaginário para fugir às professoras? Bem, este termo foi completamente mal empregue e deixa uma ideia completamente errada sobre o que o rapaz realmente fez. Que aconteceu com o verbo "escapulir"?
Bem, Bobby lá vai andando por onde quer que tenha andado (pelos vistos, o Kevin não se digna a dizer por onde o miúdo andou; para quê, descrições não são com este tipo), chama a irmã e acaba por, por um golpe de sorte (vulgo, irrealismo), encontrá-la a dirigir-se a uma estranha loja no fundo de uma estreita rua. O rapaz decide então segui-la para a trazer de volta.

"A loja está deserta.
Não há ninguém atrás do balcão. As luzes estão apagadas. Os milhares de brinquedos estão cuidadosamente arrumados em extensas e labirinticas secções constituídas por infinitas prateleiras.
- Wow...! - Exclamou Bobby, espantado."

Aqui está mais uma idiossincrasia literária de Kevin Palha. À semelhança de Zuzarte, embora ainda mais notória, em vez de narrar toda a história no tempo passado, prefere alternar entre o passado e o presente, criando ali uma salgalhada de confusão que deixa o leitor sem saber onde se situar. Caro, Kevin, ou escreves no presente ou no passado. Isto não é à vontade do freguês.
Bobby lá consegue reencontrar-se com a irmã, bem mais facilmente do que esperávamos, e eis que se depara com uma pirâmide de imensas bonecas. Morgana encontra-se sentada com uma grande boneca ao seu lado, chamada Dolly. Bobby não gosta do aspecto da boneca e afasta-a da irmã antes de pegar na mão de Morgana e fugir com ela por ali. Só que a menina recusa-se a ir com o irmão e arranja forma de lhe escapar. Bobby vai atrás dela, mas é então que se depara com Liam Wright e as outras crianças referidas acima.

" - Tu e eu... temos umas continhas para ajustar. - Disse Liam, com um sorriso malicioso.
Justin agarrou Bobby e agarrou-o pelos cabelos (ou seja, agarrou-o depois de já o ter agarrado). Liam atirou-lhe um murro ao nariz, um pontapé nas canelas, e uma cotovelada no diafragma.
- Bobby!- Berrou Morgana. - Não! Larguem-no!
Cherry e Veronica aproximaram-se dela e cada uma lhe depositou um par de estalos.
- Cala-te, cabra! Senão és a próxima. - Disse Verónica.
- Sim. - Reforçou Cherry. - Se voltas a abrir a matraca, parto-te os dentes."


Estas crianças são completamente sádicas! É impossível que crianças com menos de 10 anos tenham tanto este tipo de atitude como este tipo de discurso. Tudo bem se elas quiserem ser cruéis, mas temos ali UMA MENINA DE 4 ANOS, POR AMOR DA SANTA! Vamos tentar ser mais realistas, ok? E por que raio iriam as quatro crianças seguir Bobby e Morgana para a loja? E quão mais incompetentes serão as professoras para não notar o desaparecimento de seis crianças? Onde está a lógica nesta bodega toda, alguém me explica?
Acontece que Morgana pede ajuda à boneca Dolly.

"Dolly piscou os olhos e, com algum custo, levantou-se. Sacudiu o seu vestido branco às bolinhas vermelhas, e inclinou a cabeça para a esquerda e para a direita. Rodou os seus olhos plastificados para um ursinho de peluche que se encontrava na prateleira atrás de Liam. Os olhos de Dolly ficaram vermelhos de fúria. O ursinho de peluche esboçou um sorriso diabólico e, das suas mãos, nasceram e cresceram garras afiadas."


Então mas isto vira uma espécie de "Demonic Toys" à Portuguesa? Daqui a nada temos a Baby Oopsy Daisy a juntar-se à festa.

Fraldas vendidas em separado.
A maior parte das crianças fica aterrorizada com a metamorfose do ursinho, mas Liam, como a criança irrealista e estúpida que é, nem dá conta do que se está a passar e continua a espancar Bobby.

"O seu amigo apontou para o ursinho. Mal Liam se virou para ver o que se passava, o ursinho saltou-lhe para a cara.
(...)
O ursinho abriu a sua boca e mostrou dentes afiados como os de um lobisomem. Mordeu a cara de Liam e arrancou-lhe a bochecha direita."


É UMA CRIANÇA, PÁ! UMA CRIANÇA DE 9 ANOS? Tudo bem que merece uns sopapos bem dados para ver se aprendia a não mijar para o sumo dos outros, mas... Porra, Kevin, não podias ter escrito esta história com adolescentes? O que se passa nessa tua cabeça perturbada?
Acreditem, caros leitores, ainda não viram nada.
Como se não bastasse um dos Care Bears devorar a bochecha do puto, um pequeno exército de soldadinhos (provavelmente os mesmos de "Toy Story") em miniatura aparece e disparam uma saraivada de tiros contra Liam. Com balas de chumbo! Onde é que já se viu isto? Como é que eles foram capazes de produzir balas de tal calibre? Foram criados assim? Iam ser vendidos ao público dessa forma? Bem, não é de admirar que a loja não tenha clientela.
As outras crianças começam a fugir, mas Cherry fica para trás. Nesse momento, começa a tocar uma música e uma voz brincalhona apresenta a loja como sendo de Mr. Kinderspiellmann, onde todos os brinquedos ganham vida (e aparentemente atacam os clientes). Bobby e Morgana conseguem escapar e refugiam-se no interior da pirâmide que tinham visto anteriormente, salvos pela boneca Dolly.
As outras três crianças continuam a fugir, desta vez de um lobo de peluche que surgiu do nada, até que algo agarra em Cherry e a arrasta pelo corredor. Três bonecos, Dolly, Teddy Pai e Teddy Filho (eu sei, parece estúpido), deitam-na numa marquesa e prendem-na bem. Um homem, muito parecido com um manequim "que se mexia como uma pessoa verdadeira" surgiu com um tabuleiro, apresentando-se como sendo Karl. Cherry pergunta-lhe por que é que a cara de Karl não mexe, ao que ele responde que apenas está a usar uma máscara e pede a Dolly que lha tire. Cherry vê então que o verdadeiro rosto de Karl está completamente desfigurado, resultado de um ataque que sofreu de quatro jovens há muito tempo.
Agora, eu até podia citar o que é que Karl e Dolly fazem a Cherry, mas acreditem em mim quando digo que é do mais doentio que alguma vez esteve presente num livro. Basicamente, injectam-lhe um líquido que lhe paralisa todos os músculos do corpo (o que é inútil, visto que eles já a tinham prendido completamente) e começam a mutilá-la aos poucos, com a pobre criança de 6 anos a sentir tudo. Felizmente, a fraca capacidade descritiva de Kevin não nos deixa pensar na cena com grande detalhe, mas mesmo assim não deixa de ser mórbido e doentio.
Enquanto isso, Justin e Veronica continuam a fugir do lobo, até que o rapaz atira um Cubo de Rubik ao focinho do peluche, o que o fez ganir de dor... Espera aí, se nesta loja os brinquedos ganham vida, então por que é que o cubo também não os atacou? Por que é que todos os outros brinquedos não os atacaram, já que Karl afirma várias vezes que os brinquedos ganham vida? Ou só os que interessa é que têm destaque? É que nem ficaria assim tão mau eles a percorrerem os corredores da loja de brinquedos e serem atacados por um exército de Cubos de Rubik.

Tentem lá mandar algo para o focinho destas belezas.
Sabem que mais? Vou ficar por aqui. Estes contos são demasiado longos e se eu ficar aqui a criticar cada problema nunca mais saio daqui. A crítica a este conto continuará no próximo post, com as coisas a piorar ainda mais. Oh se pioram...

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Literatura Iletrada - "O Filho de Odin" - 5ª parte

Eu sempre gostei de ler. Contudo, ao longo dos anos, o meu vício da leitura tem oscilado entre o hábito diário e o praticamente semestral. Sim, houve alturas em que eu praticamente negligenciei o meu amor pela leitura em prol de outras actividades não tão benéficas. É por isso que, para recuperar aquilo que me acompanhou durante inúmeras horas na minha adolescência, eu comecei a ler livros cujo tema aborda géneros literários que eu gosto. Por isso, comecei aos poucos a conhecer as obras de Agatha Christie e a acompanhar Hercule Poirot e a Miss Marple nos seus casos, viajei pelos Sete Reinos de Westeros e arredores n'"As Crónicas de Gelo e Fogo", de George R. R. Martin, vivi o desespero que o Dr. Victor Frankenstein passou ao longo da sua curta vida no romance de Mary Shelley, juntei-me a Jonathan Harker, Van Helsing, Mina Murray, John Seward, Arthur Holmwood e Quincey Morris na caçada por Drácula, conheci o heterogéneo mundo de Allaryia, criado por Filipe Faria, errei pelas místicas terras de Deltora com Lief, Barda e Jasmine n'"A Saga de Deltora", de Emily Rodda... e li este livro.
Nenhuma obra é perfeita, essa é a dura verdade. Por muita mulher que haja por aí a dizer que "Twilight" ou "50 Shades of Grey" são obras lindas e perfeitas, o que é certo é que são das histórias mais imperfeitas que existem, e a razão para isso é muito simples: são irrealistas. Na vida real, nenhuma mulher se identificaria com a Bella Swann ou a Anastacia Steel, simplesmente pelo facto que têm tanta personalidade como caixas de cartão, e ninguém é assim na realidade.
"Sim, porque haver dragões ou elfos é realista" ripostarão alguns de vós, sarcasticamente. Talvez no nosso mundo não, mas é por isso que a nossa imaginação tem a capacidade de criar inúmeras realidades onde tudo é possível. O que falamos aqui em realismo significa que cada história de ficção tem de obedecer a certas regras para que nos possamos deixar imergir na mesma sem questionar os seus elementos. Personalidades realistas envolvem as características psicológicas das personagens e leva-as a reagirem às diferentes situações consoante o que senso comum dita para cada uma delas. Por exemplo, se uma personagem é um velho carrancudo e solitário que não gosta de receber pessoas na sua casa, a narração não pode ditar que o mesmo velho fica contente quando alguém lhe toca à campainha. Cada um de nós tem uma identidade, algo que nos distingue uns dos outros. Quando uma personagem não mostra ter uma identidade, ela não passa de uma casca vazia, um modelo de puro vazio que não tem capacidade de sair da mesma cepa torta. E se um protagonista é assim, a história não vai passar de um ciclo vicioso que não vai levar a lado nenhum.
Agora, serão as personagens d'"O Filho de Odin" vazias? Como já foi dito em posts anteriores, Jonathan é claramente o author avatar de Zuzarte, e por isso é a única personagem com alguma personalidade desenvolvida, embora mesmo assim o autor muitas vezes se esteja a cagar completamente para o senso comum e adapta a personalidade de Jonathan para as diversas situações. Se a situação pedir por uma acção nobre, Jonathan é nobre. Mas se for preciso, no capítulo seguinte, essa nobreza é logo esquecida e podemos estar a observar um serial killer a ceifar centauros sem sequer se informar quais as suas intenções. Quanto às outras personagens: são apresentadas, vão falando uma e outra coisa e depois ficam esquecidas no meio de toda a adoração às qualidades de Jonathan.
Bem, já chega de dissertação. Há uma crítica a fazer e depois deste ainda tenho onze capítulos para abordar. Oh, eu sinto a minha sanidade mental a escorrer-me do meu enfraquecido ego.

A partir do 10º capítulo já estarei assim.
O quarto capítulo desta montanha-russa da mediocridade literária chama-se "Toledo e Boeürn Seterwind".

"A uns quantos quilómetros de Badajoz, os centauros ainda fugiam pelas planícies até que chegaram a um acampamento onde pernoitava Vhan, o Cavaleiro da Morte."

Então ao início Vhan é conhecido pelo Paladino da Chacina e agora é o Cavaleiro da Morte? O que é que vem a seguir, o Ceifeiro do Desespero?
Esta mudança de nomes para Vhan entusiasmou-me. Vamos ver quantas alcunhas consigo inventar para ele durante a crítica a este capítulo.

"À medida que entravam, a terra apodrecia, tornava-se negra, os animais morriam e serviam de jantar a Gurans."

O que são Gurans, perguntam vocês? Nem o próprio Zuzarte sabe, senão ele tinha colocado uma nota de rodapé a dizer que são criaturas criadas pela flatulência de Drácula. Ou pela sua própria flatulência.

"Não havia tendas, mas havia acólitos das trevas a invocar Zigurates."

Espera aí... Estás a dizer que os tais acólitos invocavam templos antigos do vale da Mesopotâmia?

Armar tendas é para meninos. Vamos mas é invocar uma coisa destas.
O Zuzarte nem se digna a explicar o que são Zigurates, nem a colocar uma nota de rodapé a informar o que são. Nem mesmo o Glossário existente no fim do livro explica a existência de tais elementos. Nem diz o que raio são Gurans. Mas mesmo assim, escusado será dizer que tais criaturas nunca mais irão voltar a aparecer na história.

"O grupo reunia-se à beira de um pequeno penhasco com vista para as planícies, e a observá-las, montado num Pesadelo (Equus Necron Maleficarum), estava Vhan."

Ok, primeiro é dito que Vhan estava a pernoitar, depois é informado que nem havia tendas (se calhar o Campeão da Perdição gosta de dormir ao relento, isso até consigo aceitar) e agora dizem-me que ele está montado num Pesadelo a observar o que se passa? Mas isto faz algum sentido? E alguém me explica como é que no capítulo anterior Vhan está na Roménia com Drácula e Khaltazad e neste ele já está a uns quilómetros de Badajoz? Vão dizer-me que o Pesadelo também comeu feijoada ao almoço e soltou uma propulsão com a velocidade de um F16? É que em nenhuma parte na descrição dos Pesadelos é dito que eles cavalgam a velocidades estonteantes. E sim, há uma descrição, o que prova uma coisa que já sabemos desde a crítica ao primeiro capítulo deste livro: Zuzarte só sabe plagiar.

Ora nem mais. Estes Pesadelos não são nada mais nada menos que os mesmos tipos de criaturas que povoam o universo de Dungeons & Dragons. Isso só mostra que a capacidade imaginativa de Zuzarte é tão fraquinha que a única forma que encontra para descrever seres é indo buscar aos seus hobbies e vícios. Não fazemos ideia do que são Gurans e Zigurates, mas Pesadelos já é mais simples de imaginar, principalmente porque não são originais neste livro.
Bem, os centauros lá se aproximam de Vhan e informam que grande parte da manada foi aniquilada por Jonathan e Kenchi. Esta informação faz com que o Arauto do Morticínio fique enraivecido com a incompetência dos centauros. Mesmo assim, um deles exige o pagamento devido pelo trabalho, o que não faz sentido, uma vez que a missão deles era de matar Jonathan. Então, o Núncio da Hecatombe ordena aos esqueletos arqueiros (invocados por necromantes porque nenhum deles levou um baralho de Uno para se entreterem) para chacinarem por completo os centauros.
Então, os centauros são varados por flechas e os que escaparam são cortados aos pedaços que voam pelo ar e são devorados pelos tais Gurans. Enquanto isso, o Emissário do Massacre ri e bate palmas como um bebé entretido com um show de palhaços.

Assim tipo isto.
Depois de mais uma carnificina de seres fantásticos, o Ginetário da Mortandade elogia o seu exército de Olivias Palitos e pensa em experimentar outra técnica de assassinato.
E a acção salta automaticamente para Jonathan e Cia, já fora da cidade.

"Jonathan tocou uma nota na sua trompa e ajudou Iori a subir (...)"

Ok, nós já sabemos que soprar a trompa de Odin faz aparecer Arthos, mas não ficaria mais bem escrito se houvesse uma passagem que descrevesse a chegada do grifo? Mas que posso dizer? O Zuzarte não presta para escrever.
E é então que chegou a hora de apresentar o novo animal sagrado. Kenchi decide invocar a sua montada que irá acompanhar os nossos heróis na viagem.

" - (Kenchi) O vento sopra de leste. Aparece Daigoro! - depois pegou numa espécie de flauta e tocou uma nota."

Pensavam que me tinha esquecido?
Eis que partículas verdes começam a se juntar até formar "um tigre com dentes de sabre, pele verde às riscas e olhos azuis. O pêlo do animal formava uma espécie de chama esverdeada."

E ele soma e segue.
Antes de continuar, há-que referenciar mais uma descarga de plágio que se encontra aqui. No post anterior apenas disse que Kenchi é uma fotocópia de Kenshi, uma personagem de Mortal Kombat. O que não apontei foi o uso do nome Yojimbo e, introduzido neste capítulo, Daigoro. Depois de uma pequena pesquisa, poderíamos considerar Yojimbo como sendo uma referência ao filme japonês de 1961 com o mesmo nome e realizado por Akira Kurosawa.

Isso até não seria assim tão mau se Zuzarte não mostrasse o quão energúmeno é ao introduzir também o nome Daigoro e ainda por cima o associar a um animal mágico. Isto porque Yojimbo é também uma summon de Final Fantasy, aparecendo pela primeira vez na décima entrada da famosa série de RPG, sendo Daigoro o seu fiel cão.

Se eu tivesse uma espada daquelas chamava-lhe a Ceifeira de Plagiadores.
Então o tigre lá surge, assusta Jonathan quando mostra que sabe falar e até sabe o seu nome e começa uma rivalidade com Arthos.

"- (Arthos) Olha lá, meu velho, tens ar de ser muito rápido.
- (Daigoro) Afirmativo, meu jovem; se eu quiser posso correr a 800 km por segundo ou até à velocidade do som e da luz.
- Ai é?! Então fazemos assim, meu velho senhor: realizamos uma corrida daqui até Toledo; e quem chegar primeiro, ganha."

Ora bem, a distância em linha recta de Badajoz a Toledo são cerca de 275 km. Fazer essa distância a 800 km/s é mais rápido que ir da retrete ao bidé. E sabendo essas informações, o Zuzarte ainda tem o descaramento de afirmar que 800 km/s é a velocidade básica de corrida de Daigoro. É que Arthos e Daigoro andam a fazer a corrida entre as duas cidades, ambos a altas velocidades, e o grifo ainda se consegue colocar ao lado do tigre.
Ora, o Zuzarte pode ser esquecido, mas eu não sou. Disse Arthos que a sua velocidade é a mesma de um F16. A velocidade máxima atingida por um jacto desses é de 2 414 km/h, muito mais lento do que a velocidade máxima de Daigoro. Para além de colocar ambos os animais lado a lado, ainda fazem uma recta final quando se encontram a apenas cinco quilómetros de Toledo. Este Zuzarte é um exagerado nas características que dá às suas personagens e depois ainda nos quer fazer acreditar que algo como esta corrida era possível acontecer. Eu perco a minha paciência com este imberbe.
Então eles lá chegam à cidade.

"Os portões da cidade eram feitos de tijolos vermelho-acastanhados e reforçados de metal negro. As grades eram de madeira de carvalho, fazendo com que o portão fosse muito difícil de destruir."

Mesmo assim, acho que era melhor certificamo-nos de que isso
é realmente verdade.
Chegam todos aos portões da cidade e pedem para os guardas lhes abrirem passagem para a cidade. É então que temos a bela da capacidade do Zuzarte para nos maravilhar com uma descrição detalhada de Toledo em todo o seu esplendor.

"Jonathan, Iori e Kenchi entraram em Toledo, a cidade das espadas e armaduras, toda ela construída de pedras e tijolos; ou seja, os passeios eram feitos de pedra e as casas de tijolo."


Chegam finalmente a casa de Boeürn Seterwind, o paladino de Toledo e tio de Jonathan, e tocam à campainha. Lá vem o mordomo que, ao ouvir o nome de Jonathan, tem logo a recordação do momento em que o rapaz tem um duelo de floretes com Uther aos 10 anos e consegue derrotar o pai.
Sim, claro, vou mesmo acreditar que um puto de apenas 10 anos conseguiu desarmar o paladino do Rei de Portugal. Deves pensar que os teus leitores são tão estúpidos como tu, Zuzarte. Acho que devias parar com a enxurrada de privilégios para o teu protagonistazinho de treta porque há coisas que não fazem sentido absolutamente nenhum.
O mordomo leva os visitantes à presença de Boeürn, e é então que temos direito a uma descrição desta nova personagem.

"Boeürn, na sua aparência, é muito semelhante a Uther, apenas o cabelo deste é preto e a sua armadura é amarela."

Oh... Então Adriana Seterwind casou com um homem muito semelhante ao irmão? Hmm...

Estás a ver, maninha? Não somos os únicos a fazer marotices.
Boeürn então repara em Jonathan, que nesse momento está distraído "a tirar macacos do nariz". Claramente a atitude mais correcta do filho de Odin. Então, para celebrar a chegada do sobrinho, o paladino de Toledo decide fazer um banquete. O mordomo bate palmas e todos os restantes criados, entre eles hobbits, lá começam a preparar a grande festa.
Logo a seguir chega "uma rapariga de cabelo ruivo, orelhas de elfo e com uma cara quase tão bonita como a de Iori (tanta preguiça, Zuzarte, tanta preguiça...)". Quando vê Jonathan, salta-lhe literalmente para cima e aperta-lhe o pescoço.

"- Jonathan, voltaste!!! - gritava ela, contente.
- Gasp... não... conseguir... respirar... morrer... COF... - e Jonathan caiu no chão, semiasfixiado.
Iori, ao ver o que aconteceu, gritou tão alto que até o vidro de uma janela rachou."


Este Zuzarte é mesmo uma peça. Agora está a tentar reproduzir um momento de pura comédia através de elementos de completa palhaçada. Pois é isso mesmo que nós temos durante os parágrafos seguintes, com Iori a ameaçar degolar a nova rapariga, a ruiva a mostrar as suas capacidades de reanimação e a mandar um balde de água fria à cara de Jonathan e Iori a perder as estribeiras quando o rapaz apresentou a rapariga nova como sendo Mace, a sua namorada.
Na verdade, Mace é prima de Jonathan e filha de Boeürn. O facto de ela ter orelhas de elfo poderia remeter para a mãe ser uma elfo que viveria lá em casa, mas como sabemos que as mulheres nas histórias de Zuzarte são seres inúteis que só servem para fazer de depósitos de esperma para os homens, obviamente que nunca iremos saber quem é a mãe de Mace. Com Adriana Seterwind apenas sabemos o nome e que é mãe de Jonathan. Com a mãe de Mace nem sequer temos conhecimento da sua existência.
Finda toda a confusão, que só serviu para encher linhas, Jonathan lá se vai preparar para o tal banquete, entrando no quarto que lhe fora designado. O capítulo termina com a informação que o seu fato de cerimónia encontra-se em cima da cama.
Mais uma vez, Zuzarte apresenta-nos uma cavalgada de inconsistências, narração fraca, descrições inexistentes e, como não podia deixar de ser, plágio a torto e a direito. Por um lado, até me sinto aliviado por ter terminado este capítulo. Por outro, ainda tenho mais onze para analisar e achincalhar à força toda. Ao menos divirto-me a expô-lo como a fraude literária que ele é.